quinta-feira, 29 de março de 2012


Eu lembro do dia em que você se apaixonou pelo rasgo no meu peito e firmou um contrato de que seria meu lar, meu colo, meu refúgio de proteção. Você queria me cuidar e pediu que eu despisse os medos e o sufoco na sua casa, na sua cama, no seu peito. Você me deixou mastigar cada pedacinho do que você era, na minha voracidade em ter e pertencer. Me deixou penetrar no seu mundo, como se sempre tivesse sido meu o lugar reservado do outro lado do seu colchão. E também o espaço para deixar meus livros na sua cabeceira, e o lugar deixado para guardar minha escova de dentes no armarinho do seu banheiro. Seus olhos me diziam no silêncio absoluto que era eu quem você esperou por tanto tempo. E seus dedos no escuro dedilhando minhas costas, nuca, barriga, coxas. Seus dedos repetiam que sou eu quem você queria pra bagunçar a tua vida.
A chatinha, mesquinha, faladeira, que ri de tudo e não se importa muito com nada. Eu, a tua menina, tua confidente, teu aconchego, tua mansidão calada. Você, a minha escolha mais bonita. Mas num dia preguiçoso, quem sabe em um domingo quando a gente estiver só esperando o sol se pôr pra se amar sem querer saber se amanhã é segunda-feira, nesse fim de tarde morno eu vou te falar baixinho que também era você quem eu esperava esse tempo todo. Nos dias seguintes eu vou te mostrar sem precisar dizer nenhuma palavra como você deixa as coisas tão mais lindas e vou falar da minha vontade de fugir contigo pra qualquer lugarzinho perdido pra refazer a minha vida e a tua.
Agora mesmo eu ando esquecendo de todas as dores que eu já senti um dia, e de todos os caras que se aproveitaram do espaço no meu peito que sempre foi teu. E eu decidi promover um surto de amnésia induzido de todos os idiotas que tentaram acabar comigo. Agora eles são poeira, são nada. Porque é simplesmente maravilhoso descobrir que era mordendo sua barriga para escutar teu riso mais bonito que eu teria um pouquinho de paz. E saber que é nas falhas da sua barba, nas pintinhas da sua íris que se espalham ao redor das pupilas, nos contornos das suas mãos que eu sou feliz de verdade. Apagar tudo o que eu fiz até você chegar porque afinal nada era tão bom enquanto eu ainda não te escutava cantando no chuveiro e embromando as partes em que você não sabia a letra. Nada seria tão perfeito quanto não fazer nada ao seu lado, e isso jamais alguém entenderia.
Eu vou pedir pra ficar pra sempre deitada nas suas costas, ganhando cafuné, cantando Cazuza pra você enquanto deitamos na rede deixando o dia passar de mansinho. Vou te deixar bilhetes no bolso do seu casaco, te ligar com saudade logo de manhã. Vou te acostumar aos meus dedos acariciando sua nuca, seu peito, seu coração. E você vai saber que te sinto sempre por perto quando você não está aqui.

Clarissa M. Lamega
“Diga que ama no supermercado, na fila do McDonald’s, na música de abertura do show do Frejat, lavando a louça, na garagem do prédio. Sem cerimônia ou ato solene, diga ‘eu te amo’ balbuciando, rindo, gritando, antes do outro, sem esperar ouvir o mesmo.
Pode parecer impulso, mas se dizes é porque sentes, ainda que por uma fração de segundo, então exercite seu direito de falar o que quiser, de amar quem você quiser. E não se arrependa, já que dizem que o sublime está o banal, nas pequenas coisas. E daí se o ‘eu te amo’ está perdendo o impacto? Não deveria servir para chocar ninguém mesmo.”

Gabito Nunes in A banalização do "eu te amo"

sábado, 17 de março de 2012


Enquanto faltam uns oito metros pra que a gente se alcance, é possível avistar o sorriso que vai se abrindo feito sol quando é de manhãzinha e as nuvens colaboram. Desligamos a poucos minutos no celular, mas mesmo depois de quase um ano, a tensão de chegar pertinho ficando um dia ou dois longe palpita feito tamborim: não sei se é sistole nem diástole, acho mesmo que é a ansiedade de quase sempre com efeito aumentado, fruto do tanto que quero ele longe e ainda mais quando posso agarrar praticamente o que de melhor o mundo me proporciona com meus dez dedinhos afobados.

Depois passa rápido a conjunção entre beijar apertado, abraçar meio sem jeito - mas forte - e sair de mãos dadas pra qualquer lugar onde não esteja calor demais, nem frio de rachar. Contar todos os detalhes já antes titulados se importantes ao longo do dia, mas não feitos de forma tão minuciosa. Rir sempre, e de qualquer lembrança que tope em meio ao assunto ou ocorra no caminho até o carro. Poder compartilhar um silêncio ou outro, mesmo que em algumas sinaleiras debruce o queixo sob o ombro que dirige o volante, saber que a intimidade cresce com o passar dos dias e não cabe enganação, não existe nojo e muito menos tédio é sorrir feliz cada vez que perguntam porque ando distraída, olho tanto para horizontes ou simplesmente os olhinhos brilham quando falo em amor.

Num olhar que pode atravessar uma sala cheia de gente, centenas de centímetros de distância ou instantes de tensão, é fácil telepatizar e encontrar ele me olhando como quem decifra antes mesmo que eu me resuma a pensar. Combinar os detalhes para o próximo final de semana, planejar um futuro no qual a gente nem mesmo sabe que existe - mas que é inevitável, sonhar pra que cinco, dez anos passem correndo tem tornado a realidade ainda mais encantadora, a cada dia. Tendo as particularidades acertadas, algumas concessões feitas, e uma grande amizade que nos permite um amor sincero e real, de algumas brigas mas de um bem inestimável quando resolve que é dia de paz. Porque além ter escolhido a dedo um namorado, fiz questão de que fosse este também o meu melhor amigo. E hoje é. Tem sido. Ainda bem.

O meu melhor é sim, o meu amor, eu disse esses dias. Sem arrependimento nenhum, porque eu sinto e logo precisa sair daqui pra tomar vida própria. Até porque, só aumenta. Enquanto ele faz o fogo e eu lavo a salada, foge junto pra não tão longe mas pra onde a gente consiga ser tão nós mesmos que é impossível não ir embora sorrindo. Mesmo que haja mosquitos, nada de muito bom na televisão, o latido dos cachorros lá fora ou comece a chover enquanto a ideia inicial era torrar o bronzeado do verão todo num único dia de piscina. Debaixo das sete chaves do meu peito, entre as primeiras pessoas que penso em contar as coisas boas que me acontecem, no meio dessa bagunça que tem se tornado a minha trajetória mundana, é ali que ele está: vindo na minha direção numa noite qualquer pra me levar pra passear um pouco onde o mundo se torna repentinamente bonito e a realidade desaparece.

Desde a minha força quando tudo vai mal, ao colo exato onde sei que posso de vez em quando ser mimada e  diminuir um pouco, pequenininha, ele que nem sempre pensa como eu, mas tem me ensinado um bocado sobre essa loucura que é a vida - e aprendido um pouco comigo, um tanto quando diferente, também - é que vale a pena num final de noite suado onde pensar não cabe mais de tanto que já foi o resto dia. Só quero um banho, qualquer coisa pra comer, e paz. E ele, e um filme, ou horas gastas antes de dormir com conversas esquisitas onde a gente se diverte falando sobre gostos em comum, discutindo acerca de opiniões nem sempre concordantes ou mesmo ouvindo a rádio de jazz e soul pelo computador e comentando o quanto era engraçado quando ainda não éramos tão cúmplices, mas desde lá, felizes construindo a solidez que tem essa paixão que ainda não morreu nem deve, mas que cada vez mais é amor.  


Camila Paier

* Esse texto sim é pra ti meu amor, como todos os outros de agora em diante. Eu te amo tanto, tanto, tanto que não cabe dentro de mim! 

quinta-feira, 15 de março de 2012

Eu queria te chamar, gritar teu nome, pedir para que você parasse tudo e prestasse atenção apenas em mim. Queria dizer tudo que sinto e guardo para mim, queria pedir para você ficar sempre do meu lado, queria esvaziar todos os sentimentos e palavras transbordadas por mais que eles não significassem muito.Por um momento eu quis vencer o meu medo bobo de te perder, por uma vez eu quis acabar com toda angústia que a tua falta me faz. Queria qualquer coisa, menos ficar calada e simplesmente te ver partir.
Fonte:http://lixadeunha.tumblr.com/
Discuta comigo, diga que meus medos são tolos e que com você aqui, não há o que -ou quem- temer, espero por isso sempre que confesso eles a você. Não se preocupe com conselhos gigantescos e lições de moral, afinal, conselhos nem são seguidos mesmo. Apenas diga que estará aqui quando eu voltar e que seu conjunto lindo -olhos, sorrisos e lágrimas- estarão aqui também, esperando-me.
(Jeniffer da Rosa Rebelatto)
Só olhar para ele, sentar ao lado, ouvir a voz, faz tudo ficar mais feliz. Algumas pessoas simplesmente valem a pena.
(Tati Bernardi)

quarta-feira, 14 de março de 2012

"E quando a tempestade tiver passado, mal te lembrarás de ter conseguido atravessá-la, de ter conseguido sobreviver.
Nem sequer terás a certeza de a tormenta ter realmente chegado ao fim. Mas uma coisa é certa.
Quando saíres da tempestade já não serás a mesma pessoa. Só assim as tempestades fazem sentido."

(Haruki Murakami)