sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Perguntaram a John Lennon:
- Por que você não pode ficar sozinho, sem a Yoko?
E ele respondeu:
- Eu posso, mas não quero. Não existe razão no mundo porque eu devesse ficar sem ela. Não existe nada mais importante do que o nosso relacionamento, nada. E nós curtimos estar juntos o tempo todo. Nós dois poderíamos sobreviver separados, mas pra quê? Eu não vou sacrificar o amor, o verdadeiro amor, por nenhuma piranha, nenhum amigo e nenhum negócio, porque no fim você acaba ficando sozinho à noite. Nenhum de nós quer isto, e não adianta encher a cama de transa, isso não funciona. Eu não quero ser um libertino. É como eu digo na música, eu já passei por tudo isso, e nada funciona melhor do que ter alguém que você ame te abraçando.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012


- Amor, me dá o último abraço? Tenho que levantar.
Ele, mesmo ainda habitando o universo do sono profundo, me puxa pra perto, envolve seus braços grandes em torno de mim, enquanto encaixo minha cabeça no espaço certinho criado pelo vão da sua clavícula direita.
- Deixa eu colocar um travesseiro aqui, pra você não ficar com a cabeça no duro do meu osso.
Ele, sonolento, puxa, assim como puxou tantas outras vezes, a pontinha do travesseiro para deixar o encosto mais confortável para mim. Mal ele sabe que, no mundo, não há lugar que me traga mais aconchego do que deitar naquele corpo – com ou sem osso.
E a soneca do despertador impieodoso, toca mais uma vez.
- Mas já se passaram dez minutos? Para mim não pareceram nem dois, eu digo, pensando que o despertador não seria tão cruel se soubesse a sensação que eu estava vivendo naquela hora. – Só mais cinco minutos, se não o trânsito fica insuportável.
Sei disso. E sei que, milhares de vezes, fiquei parada no trânsito por causa dos minutinhos a mais. Preciso sempre sair uns minutos antes de o relógio marcar sete horas, porque se tem alguém mais impiedoso que o despertador, é o trânsito dessa selva de pedra. Ainda mais com a chuvinha que, desde ontem, cai fina lá fora.
- Vamos fazer uma última conchinha?
Ele finge que acredita e, como numa sintonia, viramos. Acho engraçado como não nos importamos em nos virar quantas vezes forem necessárias durante a noite. Nosso barato mesmo é dormir colados, juntos, conectados. Se um quer virar pra direita, o outro vira também. Ninguém se importa. O importante é não perder o laço.
Ele puxa meu corpo de encontro ao seu, passa seu braço por debaixo do meu pescoço, ao mesmo tempo em que tiro os cabelos da nuca, para que ele possa encaixar seu rosto nela sem pinicar. A respiração dele na minha nuca sempre foi pra mim uma forma de amor. O ar quente me esquenta e aumenta aquela preguicinha gostosa. Mas hoje é quarta-feira. Quarta com cara de segunda, porque acabamos de sair de um feriado emendado. Não tem espaço para preguicinhas gostosas. Fiquei me lembrando como as duas manhãs anteriores foram boas, sem ter que discutir com o despertador e poder ficar colado sem fazer absolutamente nada por horas a fio.
Eu sempre acordo mais cedo. Tenho tique de ficar na cama acordada. Por mim, acordo e levanto. A não ser quando tenho uma companhia ilustre do meu lado, me abraçando num encaixe perfeito. Mas pra mim, só tem graça se ele também acorda – que graça tem fazer carinho se ele não sente? Arrumo uma forma de me mexer disfarçadamente, e começo a dar beijos na pele lisinha do seu pescoço como se tivesse mesmo acabado de acordar. Ele, finge que acredita, retribui meus beijos e, educadamente, me faz companhia – meio dormindo, meio acordado.
E a soneca do despertador impiedoso, toca mais uma vez.
- Preciso ir amor, vou pegar trânsito – digo como se estivesse fazendo algum esforço além do mental para levantar dali.
- Só mais um abraço, vai te atrasar muito?
Não, claro que não. O trânsito vira coisa pequena, diante daqueles minutos de paz e de aconchego. Encaixo meu rosto no pescoço dele, respiro fundo, como que pra guardar o cheiro dele dentro de mim. E fico pensando, ainda sem coragem de abrir os olhos, que todo mundo precisa de um aconchego desses. O aconchego deixa a vida mais quentinha. É como aquela sensação de chocolate quente com pão de queijo de vó nos dias frios. É alimento pra alma.
Finalmente me levanto, num esforço sobre-humano. Puxo o edredom caído, faço um casulo para seus pés não ficarem de fora da coberta. Me troco em minutos, para compensar os minutos extras na cama.
Valeu a pena.
Me despeço com um beijinho e sussurro um eu te amo nos ouvidos ainda pouco atentos por causa do sono. Completo com um obrigada pela companhia deliciosa na noite. Ele provavelmente não vai lembrar quando acordar, mas sempre arrisco.
E finalmente saio, com a energia recarregada e cheia de coragem de enfrentar o trânsito infernal, pensando que a coisa que a gente mais precisa na vida é aconchegar, e se deixar aconchegar.

Jaque Barbosa