segunda-feira, 5 de agosto de 2013

E eu to aqui, sonhando acordada, lembrando de cada detalhezinho pra não esquecer de nada. Quero que fique bem guardado cada momento, cada risada, cada loucura. O sábado já começou perfeito, arrumar as coisas pra viajar contigo, como ser melhor? O almoço delicioso, prato que ainda vais repetir pra gente e com certeza vai ficar ainda melhor. A vontade de conhecer a famosa praia da sepultura, e acabamos conhecendo tantas outras que nem sabemos o nome, a trilha, a falta de ar, as bifurcações, se perder, tudo valeu a pena. A hora que chegamos no hotel nem se fala, sabia que cada minutinhos sozinha contigo naquele lugar ia ser inesquecível. A sacada, a banheira, a ida ao supermercado 'à pé', a espuma com shampoo monange, a comida deliciosa, o chivas 12 anos, esquentar água no fogão pra banheira que tava ficando fria e não saía mais água quente, as fotos, os vídeos, as conversas intermináveis, as risadas, a cumplicidade. Acho essa palavra linda, e acho mais lindo ainda casais que tem isso, que é tão dificil de conquistar, CUMPLICIDADE, acho que essa palavra resume tudo que temos, que sentimos, o modo como nos relacionamos. Eu tenho certeza que ainda vamos passar muitos finais de semana iguais, ou melhores que esse, tua companhia e teu esforço pra fazer tudo que eu quero do jeito que eu quero são as melhores coisas que eu poderia ter e sonhar. Obrigada por ser tão perfeito, e fazer deste, que nem aconteceu ainda, um dos melhores aniversários da minha vida!

Eu te amo!

tua lê.


sexta-feira, 26 de julho de 2013

A gente nunca esquece o dia no qual o coração toma uma flechada. Cupidos são bons de mira. Eles não erram. A flechada vem sempre certeira, dilacerando o peito, rasgando por dentro. Todo amor tem um quê de masoquista.
Lembro-me exatamente do dia em que meu coração foi alvo. Num instante, tudo era calmaria. As cores no pantone da vida se mantinham sóbrias. A rosa soltava o botão que não tinha pressa de abrir. O céu tinha as nuvens de algodão de cada dia.
Até que ela veio. Afiada, rasgante, sem volta.
No instante seguinte, o mundo todo parecia estar de ponta cabeça. Os sintomas eram arrepios pelo corpo, uma sensação gélida no estômago, palpitação acelerada no coração, respiração ofegante, suor excessivo, e uma alegria descomunal que só atinge os apaixonados. As cores do mundo, antes sóbrias, agora pareciam mais extravagantes do que nunca. As flores, que esperavam o tempo certo de abrir, pareceram todas desabrochar num só momento. O céu ficou mais azul, e a nuvem que tinha uma forma qualquer, de repente se moldou em um piegas coração.
A vida nunca mais foi a mesma desde o dia em que você chegou.
As noites ficaram mais quentes. E um fenômeno estranho passou a acontecer: não conseguia mais dormir no meio da cama, ainda que ela fosse de casal. Mesmo quando ela era só minha, eu ia pra ponta direita, e deixava todo o resto dela vazia, como se sua presença estivesse impregnada ali. A sua presença estava impregnada ali.
As alegrias e as dores vieram em dobro – porque eu passei então a sentir o que você sente. Dias nos quais seu sorriso era tão largo que fazia seus olhos ficarem fechadinhos eram os melhores pra mim (tu todinho, todinho). A sua alegria elevava a minha ao quadrado. E nos dias em que seu coração doía, o meu doía junto. Ah, e como doía. Descompassado, ele demorou para entender como os sentimentos de outra pessoa podiam deixá-lo tão confuso assim. E então, eu passei a querer te ajudar a ter muito mais dias felizes, e muito menos dias tristes.
As viagens que sempre sonhei em fazer agora pareciam urgentes, porque a melhor companhia eu já tinha. Queria explorar cada canto do mundo tendo você como testemunha. Queria você comigo na foto na Torre Eiffel, no Taj Mahal, nas Muralhas da China, nas Pirâmides do Egito. Você deixava a paisagem mais bonita do que ela já era.
Meu conceito de carinho também mudou de forma descomunal – de repente, tudo o que veio antes pareceu sem importância, diante do conforto que as suas mãos grandes causavam em mim. Enquanto eu deitava no seu peito e você passava a mão nos meus cabelos, eu sempre tentava entender como mãos tão grandes podiam trazer em si toda a ternura do mundo.
Cozinhar também nunca foi tão divertido. Fui arrebatada por um estranho desejo de te alimentar. Cada dia ao seu lado me motivava a criar um prato novo, algo que desafiasse suas papilas, algo que surpreendesse o seu paladar.  Queria te fazer comer bem, pra você depois me comer bem.
Sonhar ganhou uma nova dimensão. Não foi só a gente que se uniu – meus sonhos namoraram os seus e tiveram filhos que nunca paravam de chegar. Sonhos brotavam de dentro de mim, antes mesmo que eu pudesse pensar em concebê-los. Eles não tinham tempo de esperar a cesariana – nasciam todos de parto normal.
E muitas coisas que eu ouvi durante a vida toda se revelaram fantasiosas depois que você chegou. Tentaram me convencer de que ciúme era o perfume do amor. A gente aprendeu que o perfume do amor é o amor mesmo e nada mais. Tentaram me convencer de que eu não podia confiar nas pessoas. Com você, eu fecho os olhos e salto. Tentaram me convencer que gente linda não pode ser inteligente. E aí vem você e me prova o contrário.
Se a vida já era boa demais, depois que você chegou, ela ganhou um sabor novo. Ganhou gosto de jujuba. De pastel de feira no domingo. De pudim de mãe. De lareira quente em noite de inverno. De festa surpresa de aniversário. De doce de abóbora com coco. De fogos de artifício em noite de Réveillon. De feriado no meio da semana. De lambida de cachorro te desejando boas vindas. De barulho de chuva caindo. De ar-condicionado no verão da Bahia. De raspa de brigadeiro da panela.
A gente nunca esquece o dia no qual o coração toma uma flechada. E a gente nunca imagina que aquele é o momento em que a nossa vida vai mudar para sempre.

Jaque Barbosa

Muito tu, muito eu, muito nós ;)

quinta-feira, 9 de maio de 2013


Vivo com essa sensação de abandono, de falta, de pouco, de metade. Mas nada disso é novidade.

TB

Hoje deu vontade de chorar e eu só queria um colo para encostar minha cabeça e fingir que o mundo lá fora não existe.

TB

Somente uma coisa me faria bem agora. Seria adormecer com a cabeça no seu colo, você me dizendo bobagenzinhas gostosas para eu esquecer a ruindade do mundo.

 Clarice Lispector 

quinta-feira, 25 de abril de 2013


Não me importo se o caminho é difícil, eu quero realizar todos os meus sonhos. Quero o que é meu, o que é nosso. E sabe o mais bonito de tudo? É a gente poder sonhar junto. Cada um com suas vontades e a vontade que é só nossa. Isso é bonito, isso é saudável, isso é essencial em uma relação bonita e cheia de vida.

Eu gosto da nossa rotina, das nossas piadas, dos nossos silêncios, das nossas reticências, das nossas risadas. E gosto, também, das nossas brigas. A gente aprende com elas. Eu descubro mais sobre você e conheço outras partes minhas. Aquelas partes que a gente não mostra por vergonha. Reconheço o som do meu grito, vejo minha cara de raiva e meu olhar que assusta quando algo incomoda. E te percebo por inteiro. Seu tom, sua reação, sua ação. Suas verdades, nossas mentiras. E assim a gente vive junto, passando por obstáculos, derrubando o que vem pela frente. E assim vamos ficando mais amigos, mais amantes, mais enrolados um com o outro.

É bom me enrolar com você. Não falo apenas do meu pé que roça no seu pé depois que a gente se deita. Falo de sentir o calor, de olhar para você enquanto dorme, de ver seu sorriso de canto de boca quando eu passo a mão pelo seu rosto quando você está de olhos fechados. E meus dedos fazem aquele barulhinho bom quando roçam na sua barba. E a gente fica assim, colado, grudado embaixo das cobertas esperando o dia amanhecer e a vida continuar. Eu sei, sei que a vida continua enquanto a gente dorme um sono profundo e sonha com o que virá. Mas pra mim as coisas param cada vez que te olho. E eu sei que por mais que o tempo passe vai ser assim. Porque é amor o que eu sinto e sempre vou sentir por você, meu bem.

Clarissa Corrêa


Hoje eu estava pensando em nada (leia-se: pensando em tudo ao mesmo tempo) e de repente senti um aperto no peito. É, você sabe que eu nunca consigo relaxar, meus pensamentos fazem maratona e são incansáveis. Mas hoje você se instalou na minha memória com força. Então eu rezei e mentalmente te mandei minhas melhores vibrações. Tenho feito isso sempre.

Sabe, eu tenho sentido tanto a sua falta! É, eu sei que você sabe. Que falta você faz na minha vida. Que falta. E só de pensar, sentir e escrever a palavra falta e sentir essa falta toda aqui dentro, esse vazio, essa saudade infinita, lágrimas escorrem pelo meu rosto branco.

Não, eu não quero chorar. Muito menos te fazer algum mal. Eu te desejo luz, quero que você fique bem, que esteja em paz, que esteja feliz. Eu quero tanto o seu bem. Tanto.

Eu sinto saudade. Apenas isso. Não tenho como controlar. Vi uma foto sua e sorri. Sorri um sorriso que me transportou para o passado, para onde tudo era sereno e seguro. Sinto falta de deitar no seu colo, lá eu sabia que tudo tinha jeito. Que tudo tinha saída, solução. A sua risada doce e sincera eram garantias de que tudo ia dar certo.

Dói. Dói fundo. É muito difícil a gente perder uma pessoa que ama. Eu sei que você partiu faz tempo, mas a gente demora para aceitar as coisas. A verdade é que eu nunca gostei de perder, não sou boa nisso. Não gosto de distâncias, partidas, separações. Sinto falta do teu abraço. Mas sei que um dia a gente vai se encontrar de novo, por isso te mando força, te mando luz, te mando só coisas boas. E prometo que não vou chorar mais (mesmo sabendo que não vou conseguir cumprir).

Clarissa Corrêa

Acho que é isso que falta na vida da gente: mais palavras bonitas e menos cara feia. Mais olhares sinceros e menos grosseria. Mais sorrisos cúmplices e menos palavras duras. Mais educação e menos pressa. Mais respeito e menos julgamento. Mais humanidade e menos falta de respeito. Mais doação e menos egoísmo. Mais mãos dadas e menos individualidade.

Clarissa Corrêa

quarta-feira, 20 de março de 2013


Nunca achei que fosse amar tanto detalhes que, se pertencessem a qualquer outra pessoa, eu nem repararia.
A verdade é que, com você, não existe detalhe que não importa.
Então, te digo que quero.
Quero muito mais manhãs acordando ao seu lado e fingindo acreditar nas suas promessas de “só mais cinco minutos”. Sei que eles sempre se transformam em meia hora de atraso, mas eu amo me atrasar com você.
Quero também mais do seu ar esquentando a minha nuca, mais das suas mãos habilidosas que navegam com uma perfeição que ainda me espanta entre carinho e  pegada, mais do seu corpo pesando deliciosamente em cima de mim.
Quero muito mais manhãs e  muito mais noites agarradas com você enquanto agradeço ao universo por ter ganho esse presente na vida.
Quero mais chances de tomar café do seu lado – mesmo que você sempre queira só café puro mas, aceite como quem aceita um presente, as frutas que cortei pra salada e um misto daquele jeito que você gosta.
Quero muito mais da sua mão que sai do volante e vem pra minha coxa, dos seus sorrisos quando faço cafuné na sua cabeça enquanto dirige e – com certeza – muito mais viagens ouvindo que sou a copilota mais eficiente que você já teve.
Quero ouvir muito mais das suas ideias malucas e me surpreender concordando e, momentos depois, fazendo parte delas – afinal, a cada dia que passa, percebo que as pessoas que mais admiro são, de fato, os loucos.
Quero muito mais garrafas de vinho abertas e muito mais conversas daquelas que surgem depois da terceira taça.
Quero mais da sua esperança que nunca morre de que conseguirei ver o filme com você até o final. Eu sempre durmo. E você nunca desiste de me convidar para mais uma sessão.
Quero sonhar muito mais com a nossa casa na – mesmo que não saibamos se estaremos juntos até consegui-la. Isso é só um detalhe. Quero compartilhar com você mais planos  – e perceber que você me ama inclusive por isso. 
Quero mais da sua companhia na hora de inventar pratos e fazê-los acontecer. Quero mais da nossa vibração sempre que acertamos uma receita. Quero, inclusive, até mesmo mais das receitas que não dão certo mas que no final, sempre valem a pena pela experiência com você.
Quero degustar mais ainda cada centímetro do seu corpo. E poder oferecer o meu em troca. Quero descobrir mais detalhes, mais botões, mais cantinhos inexplorados. Quero te presentear com mais sensações e dispensar todas as palavras – quero ler mais os seus sinais.
Quero, acima de tudo, mais dessa leveza que eu só senti com você – que consigamos carregá-la e provar para nós mesmos que ela não é tão insustentável assim como as pessoas dizem. 

Jaque Barbosa

E eu queria que esse texto tivesse sido escrito pelas minhas mãos, pois cada pedacinho dele me lembra a gente.

Feliz aniversário pra ti meu amor, que eu seja sempre o motivo da tua felicidade ;)


sexta-feira, 15 de março de 2013


você me ensinou muita coisa, a te respeitar, te admirar, te querer, só não me ensinou a te amar, isso aprendi sozinha. sabe, quando estamos distantes, mesmo que por horas, sinto muita saudade, de dormir abraçada, de encaixar o rosto no vão das suas costas e querer ser embalsamada ali por mil anos. eu sei que eu posso muitas coisas sem você, e eu sei que, se eu tomar um banho quente e comprar uma roupa nova, talvez eu possa querer uma coisa que seja, só uma, sem você. nada muda no mundo quando você não caminha ao meu lado, as pessoas quase não percebem que falta metade do meu corpo e que eu não posso ser muito simpática porque toda a minha energia está concentrada para eu não tombar.

- Tati Bernardi

quinta-feira, 14 de março de 2013


Se me pedissem para responder em poucas palavras por que tem tanta gente interessante sozinha e infeliz por aí, eu não iria hesitar muito em responder: porque eles não querem estar sozinhos, mas não sabem estar juntos. Porque, na primeira oportunidade, tem muita gente que se agarra desesperadamente à chance de encontrar o amor da sua vida, mas não está nem um pouco interessado em construir uma relação de verdade com o príncipe encantado, quer ver logo a coroa de princesa e as declarações apaixonadas do lado de um cavalo branco.
E quem procura até acha, mas acaba se contentado com o primeiro que encontra. Ninguém mais está preocupado em se dedicar à pessoa certa, mesmo que ela seja apenas uma das dezenas que estão por aí no mundo e que combinariam muito com seus planos na vida. Na esperança de achar uma alma gêmea que nem sempre existe, se desesperam e vão com muita sede a um pote vazio, que deveria ser completado não com suas expectativas inalcançáveis sobre relacionamento, mas o que ela tem a oferecer a quem diz que ama.
Outro dia li em um comentário por aí dizendo que o problema é sempre quando alguém tenta fazer outro feliz. Que ninguém tem a obrigação de fazer uma pessoa feliz que não seja ele mesmo. Fiquei bastante escandalizada. Quem disse que é uma obrigação? A palavra relacionamento acabou substituindo a palavra amor e tudo virou uma ciência, repleta de estatísticas, jeitos de se fazer. Homens preferem isso e aquilo na cama. Mulheres são mais assim e assado, mas também não dispensam um pau com mais do que tantos centímetros, diz pesquisa.
Tem coisa melhor nessa vida do que saber que o outro está precisando de um colo e fazer de tudo para ser esse ombro amigo? Tem coisa melhor do que ser melhor amigo de quem se ama? Tem coisa melhor do que só parar de se divertir com os errados quando realmente achar o certo? Muito se diz sobre relacionamentos que acabam por que virou só amizade, mas pouco sobre os que acabam porque nunca foram. Intimidade, cumplicidade, não se paga com nenhum tipo de falsa liberdade. Não se engane, experiência nenhuma que vale a pena vai manter você nos seus eixos. E é preciso estar preparado para que sua vida seja chacoalhada de um jeito que você, se tudo der certo, não vai nem querer controlar. Paixão é assim. Amor continua sendo assim, você vai se entregando à vida, vai se entregando a quem ama, vai deixando de pensar só em si.
Se você quiser que o seu namoro/casamento/relacionamento – que o seu amor – dure, que ele marque sua vida de um jeito que vai ser difícil viver depois sem estar rodeado, repleto de uma felicidade absurda, se você quer realmente experimentar um amor de alma, um amor de olhar no fundo dos olhos e entender em dois segundos quem é o outro, do que ele precisa para ser feliz – e que ele faça o mesmo por você -, vai ter que abrir mão da postura individualista de querer tudo e não dar nada.
De uns tempos para cá, comecei a me sentir a mulher mais feliz do mundo por nunca ter tido um desses relacionamentos de estatística, planejado, pensado, calculado para não dar intimidade demais nem resultar em liberdade de menos. Eu só amei, amei, amei, amei muito. Sem ficar podando arestas e vivendo com medo de como as coisas vão se sair. Porque bom mesmo é acordar todos os dias, olhar pro lado e não acreditar em quanta felicidade o destino te reservou. Não por uma noite, nem por seis meses, mas por anos e anos. Infelizmente, isso é muito raro. E não porque é impossível, como os mais desiludidos acreditam às vezes. Mas porque tem muita gente querendo amor, e pouca gente sabendo o que é isso.
Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.
(Clarice Lispector)

E é só sair um pouquinho que seja de perto de ti que ela já me aperta.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013


só ama aquele de coração bom, aquele que gosta de dar, que ainda sorri largo e franzindo os ombros tipo criança. ama só quem merece, quem procura e sabe que achou, quem não vê amar como uma coisa sublime e extraordinária, quem sabe o amor ao alcance das mãos, da boca, das costas, da nuca, dos pés. ama quem provoca os olhos, as vontades, o sabor do outro. porque amar é isso. normal.

amar é sofrer choque térmico quando chega a hora de dar tchau, é implicar com o jeito do outro, brigar no meio da rua, pegar na mão e fazer as pazes ali mesmo. amar é brincar de briguinha, é dizer que vai amar pra sempre, é dar beijos e cheiros em lugares estranhos em locais inadequados, é beber no mesmo copo. todo amante se arrisca meio poliglota "amore mio", "mon amour", "meine liebe" ou "meu amor" mesmo.

amar é ouvir som de luz apagada, carregar na garupa, prestar os primeiros socorros, testar um óleo novo de massagem. amar é beber milk shake de chocolate, alugar filme, cantar no chuveiro enquanto o outro escova os dentes, é dormir abraçadinho até mais tarde. amar é não saber esperar, mas esperar mesmo assim. amar é suspirar alheio, respirar ofegante, ter o peito encaroçado. aquele que ama abusa do "inho". benzinho, docinho, tigrinho, morzinho. amar é dizer "fazer coisinha", mandar SMS de boa noite, escrever cartinha perfumada e todas essas idiotices gostosas.

o olho reluz, a pele melhora, o corpo reage, o coração bate feliz. amar é mandar, achar que manda, obedecer, fingir que obedece. amar é fazer vitamina de banana com nescau, é dar bom dia espreguiçando as vértebras com os braços esticados, sorrindo envergonhado de remela nos olhos. amar é dizer "vem cá", ter os pés aquecidos sem pedir, comemorar o dia do primeiro beijo, chegar da festa e comer pizza gelada. só ama aquele que começa a falar pelo fim, que diz sim sem saber a pergunta, que discute o namoro sem lugar-comum.

ama quem sai na rua pra tirar fotos, pra ver estrela riscar o céu, pra pisar na grama descalço, pra pegar um cineminha na terça. amar é perguntar "tá dormindo?", é descer do ônibus com o outro à espera, é cantar "she loves you yeah yeah yeah", é morder queixo, orelha, cotovelo, panturrilha, lábio. amar é comer uma coisa diferente e lembrar o outro, é ficar de mal, é arrumar tempo pra pensar no outro na correria do dia.

o cúmulo da saudade é amar. você a sente mesmo estando juntinho. amar é todas essas bobagens e muito mais. amar é cotidiano. amar é humano. amar é instinto. amar é necessário. amar acontece. amar é escrever. pois gente, afinal, quem foi que começou que essa história de que amar não é uma coisa normal?

- Gabito Nunes in “A manhã seguinte sempre chega”

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013


Segunda-feira chuvosa em São Paulo. Trânsito caótico. Estava afogado em um imenso e interminável maremoto de carros, ônibus, caminhões e todo tipo de obstáculo capaz de fazer com que eu perdesse a sessão de cinema, para a qual eu rumava naquele dia cinza. O expediente também não havia sido nada bom. Tinha suado sangue para cumprir os prazos impostos pelo cliente e adivinha? Depois que entreguei o pedido, descobri que aquilo era somente para próxima semana. E mais, naquela manhã, derrubei quase um litro de café fervendo em cima do meu saco, ou seja, além de fritar minhas amadas bolas, ainda passei o dia inteiro ouvindo piadinhas bobas, feitas pelos meus colegas de trabalho. Eles diziam: “O Ricardinho ficou menstruado, virou mocinha”. Enfim, tudo conspirava pra que meu dia fechasse com chave de merda. Morreria de ataque cardíaco no trânsito, sem chance de realizar meu último pedido, que era obviamente sair dali de helicóptero.
Logo que ela entrou no meu carro, inteiramente linda e cheirando o mais aromático dos xampus, ela olhou pra mim e, graças ao poder da intimidade verdadeira, reconheceu o estresse estampado em minha testa e, sem que eu precisasse dizer uma palavra ou sair na mão com algum motoboy na rua, ela me fez a mais aliviante das propostas: disse que não estava a fim de ir ao cinema e sugeriu que subíssemos e víssemos um DVD ali mesmo, na casa dela. Sem filas, sem estacionamento lotado, sem esperas. Ela cedeu, fingiu não querer sair e mais: se dispôs a deixar aquele vestido lindo, recém-colocado de lado, e trocou-o por qualquer pano velho. Palmas para a tecla SAP mais importante dos relacionamentos: a tal intimidade.
Ao contrário do que muitos simplistas pensam, intimidade é muito mais do que ficar pelado e não ter vergonha de balançar o pau mole na frente da amada. Intimidade é reconhecer o significado do silêncio e da quietude de quem se ama. É olhar para o lado e saber que ela precisa de um abraço urgente ou que necessita apenas que você se afaste e a deixe só. Intimidade é saber a hora de manter o toque naquele mágico ponto e ser capaz de fazer isso, graças ao timbre do gemido dela e à contração contínua daquela coxa que você aprendeu a observar intimamente. Intimidade é conseguir adentrá-la, sem que ela precise abrir a porta ou mandar convite escrito em formais letras douradas. Intimidade, de verdade, é o sexto sentido que os laços precisam para um atar suave e de menos atrito. É uma junção harmônica de cores distintas. Intimidade não nasce com o casal e assim como nas artes marciais, precisa ser conquistada com muito treino, dedicação, mistura de suor e principalmente, atenção aos sinais cotidianos emitidos por quem se ama. Digo mais, intimidade não tem nada a ver com fazer cocô de porta aberta, pois mesmo em um casal, com intimidade adquirida, sempre haverá momentos de individualidade e esses deverão ser preservados e respeitados.
Não pense que é fácil ser faixa preta nessa tal intimidade. Nem ache que para isso basta o despudor ou a coragem para conter-lhe seus segredos mais obscuros, isso não é intimidade. Para ser íntimo de alguém, você precisa manter os olhos bem abertos e só assim entenderá qual tipo de sorriso ela soltará de acordo com cada peculiar situação. É mais que isso – para atingir essa sintonia verdadeira, você precisa manter os ouvidos iguais aos de seu cão. Não basta fingir que está ouvindo e pensar na morte da bezerra, enquanto ela fala com você. Deve-se escutar cada palavrinha e, só assim, perceberá os desabafos implícitos no discurso despretensioso dela. Se quiser intimidade, precisa estar realmente encostado nela, não apenas penetrado, no sentido sexual, mas de pele colada, de mãos dadas, de nariz roçando, pois só assim será capaz de entender do que ela tem medo e fará isso apenas devido ao sutil apertar dos dedos dela em sua mão.
Intimidade é estar apto a ler os sinais mais complexos do outro. É saber fazer um pedido de casamento utilizando apenas uma simples piscada e tornar-se capaz de compreender o bê-á-bá escrito pelos sorrisos de quem se ama.

Ricardo Coiro