sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013


só ama aquele de coração bom, aquele que gosta de dar, que ainda sorri largo e franzindo os ombros tipo criança. ama só quem merece, quem procura e sabe que achou, quem não vê amar como uma coisa sublime e extraordinária, quem sabe o amor ao alcance das mãos, da boca, das costas, da nuca, dos pés. ama quem provoca os olhos, as vontades, o sabor do outro. porque amar é isso. normal.

amar é sofrer choque térmico quando chega a hora de dar tchau, é implicar com o jeito do outro, brigar no meio da rua, pegar na mão e fazer as pazes ali mesmo. amar é brincar de briguinha, é dizer que vai amar pra sempre, é dar beijos e cheiros em lugares estranhos em locais inadequados, é beber no mesmo copo. todo amante se arrisca meio poliglota "amore mio", "mon amour", "meine liebe" ou "meu amor" mesmo.

amar é ouvir som de luz apagada, carregar na garupa, prestar os primeiros socorros, testar um óleo novo de massagem. amar é beber milk shake de chocolate, alugar filme, cantar no chuveiro enquanto o outro escova os dentes, é dormir abraçadinho até mais tarde. amar é não saber esperar, mas esperar mesmo assim. amar é suspirar alheio, respirar ofegante, ter o peito encaroçado. aquele que ama abusa do "inho". benzinho, docinho, tigrinho, morzinho. amar é dizer "fazer coisinha", mandar SMS de boa noite, escrever cartinha perfumada e todas essas idiotices gostosas.

o olho reluz, a pele melhora, o corpo reage, o coração bate feliz. amar é mandar, achar que manda, obedecer, fingir que obedece. amar é fazer vitamina de banana com nescau, é dar bom dia espreguiçando as vértebras com os braços esticados, sorrindo envergonhado de remela nos olhos. amar é dizer "vem cá", ter os pés aquecidos sem pedir, comemorar o dia do primeiro beijo, chegar da festa e comer pizza gelada. só ama aquele que começa a falar pelo fim, que diz sim sem saber a pergunta, que discute o namoro sem lugar-comum.

ama quem sai na rua pra tirar fotos, pra ver estrela riscar o céu, pra pisar na grama descalço, pra pegar um cineminha na terça. amar é perguntar "tá dormindo?", é descer do ônibus com o outro à espera, é cantar "she loves you yeah yeah yeah", é morder queixo, orelha, cotovelo, panturrilha, lábio. amar é comer uma coisa diferente e lembrar o outro, é ficar de mal, é arrumar tempo pra pensar no outro na correria do dia.

o cúmulo da saudade é amar. você a sente mesmo estando juntinho. amar é todas essas bobagens e muito mais. amar é cotidiano. amar é humano. amar é instinto. amar é necessário. amar acontece. amar é escrever. pois gente, afinal, quem foi que começou que essa história de que amar não é uma coisa normal?

- Gabito Nunes in “A manhã seguinte sempre chega”